terça-feira, 21 de abril de 2009

Vichara – Conhece-te a ti mesmo


Yoga para Nervosos é o segundo livro de Yoga publicado pelo prof. Hermógenes, na sequência do sucesso ocorrido no início da década de 60 com o livro Auto-Perfeição com Hatha-Yoga.
Neste trecho escolhido, ele nos traz de forma muito clara, o que encontramos oculto nos aforismos 44 e 45, do capítulo um do Yoga Sutra de Patañjali. O uso do termo desilusionismo facilita com que nos aprofundemos no processo de auto-pesquisa, e para nos facilitar a memória, muitas vezes o professor brinca que fundaria a Igreja Universal do Desilusionismo, mas que a prática da desilusão seria tão difícil, que nem ele mesmo seria aceito na sua própria Igreja. Piada que demonstram suas características de humildade e bom-humor.

Conhece-te a ti mesmo” era o dístico, que tendo achado no pórtico do templo de Delfos, Sócrates ensinava a seus discípulos. Auto-analisa-te, diríamos hoje. Pratica vichara (autopesquisa), ensina o yoga. Em outras palavras, eu sugeriria: desilude-te em relação a ti mesmo.

Tal sugestão soa como um conselho pessimista. Não é?

Desiludir-se não é negativismo. É libertar-se. É melhorar. É progredir para Deus. É salvar-se. Os iludidos ou estão no ou vão para o inferno. Só os desiludidos chegam ao céu. Que Deus abençoe minhas desilusões!

Quando um ser humano consegue desiludir-se do falso diagnóstico que de si mesmo fazia, as portas do céu lhe são abertas. Ninguém é tão bom como orgulhosamente acredita, nem tão inferior quanto pessimistamente pensa ser. Tanto a primeira como a segunda ilusão devem ceder à judiciosa e redentora autognose, isto é, o conhecimento (gnose) real de si mesmo. Vichara é a busca, o inquérito no estilo “quem sou eu”.

Cada um de nós e – quando livre da ilusão – é a própria Realidade. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é o que se sabe?! – Pois bem, vamos procurar Deus através de conhecer aquilo que somos, descartando-nos, para isso, dos falsos juízos que de nós fazemos.

Simples, não é?

Pois lhe digo que é obra ciclópica, que quase ninguém consegue realizar. No entanto, o pouco que conseguirmos na procura de nosso Verdadeiro Eu já pode nos melhorar a úlcera; dar-nos alegria se estivermos tristes, e vida, se desanimados.

O Verdadeiro Eu está escondido daqueles que, pessimistas, negativistas, se consideram inferiores, imperfeitos, fracos e degradados, e filhos do pecado. Está também fora do alcance do orgulhoso, que se considera o maior do mundo. Está iludido quem se julga arrasado e perdido. Também o está quem se analisa, mas imbuído de vaidade. Tanto o sentimento de inferioridade como seu oposto são produtos do egoísmo. São a “cobra” e não a “corda”.

Os obstáculos que mais dificultam o julgamento de nós mesmos são: autocomplacência, autopiedade, auto-severidade. Pelo primeiro, o indivíduo, desejando uma agradável visão de si mesmo, obscurece os defeitos e enfatiza tudo o que considera perfeição. Pelo segundo, desejando sentir-se um coitado, uma vítima, um perseguido, exagera tudo o que o faça sofrer mais um pouco. O terceiro obstáculo é o oposto do primeiro. Por ele, o perfeccionista de si mesmo se fixa sobre o que precisa ser corrigido em seu caráter, temperamento ou personalidade, e não se interessa por saber o que ele tem de positivo e de bom.

Qualquer dessas três atitudes é fonte de egoísmo, e do egoísmo nasce. Qualquer delas impede o autoconhecimento, além de servirem como amplificadores das emoções e, conseqüentemente, do estresse.

Vichara requer uma atitude de isenção. Quem chegar à conclusão de que é uma peste de ruim, ou, ao contrário, uma santa criatura, ou um infeliz esquecido de Deus, está cometendo o absurdo de iniciar a pesquisa já procurando confirmar um diagnóstico prévio e, assim, não chega a saber quem realmente é. Quem teme descobrir suas próprias inferioridades e mesmo anormalidades, bem como quem deseja cada vez mais orgulhar-se do perfeito que é, não realiza vichara. É preciso serena coragem e perfeita isenção para conseguir tirar proveito da desilusão, que lhe permite conhecer-se.”

Yoga para Nervosos, ed. Nova Era, p.148

Um comentário:

  1. amo ler sobre isso tudo, me conhecer, me informar e praticar que é o mais importante.

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