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terça-feira, 21 de abril de 2009

Yoga, Paz com a Vida em Cartas


Estava a fazer estudos sobre as técnicas e práticas de yoga, em um café, e a mesa ao lado me chamou a atenção. Uma jovem mãe, bonita, e bem vestida, carregava sua filha de aproximadamente 10 anos no colo. Deixou de lado a cadeira de rodas da filha, e a ninava com carinho, e um pouquinho de agitação também. Não consegui deixar de observar. Ela fazia tudo com apenas uma mão, enquanto a outra ninava todo o peso de sua filha, já não mais tão pequena, que manifestava algum tipo de incapacidade motora e cognitiva. Comeu seu sanduíche com uma única mão, a mesma que limpava a boca da criança, a mesma que arrumou a mesa e a mesma que procurou a carteira para pagar a conta.

Enquanto isto os yogues-professores, como eu, se preocupam com a alinhamento da patela, o salto com parada de mão, se o yoga está na academia ou que tipo de certificação tal curso entrega. Esta perspectiva restrita do yoga, não descartável, mas apenas uma parte dela, fica muito menor quando nos damos conta dos desafios que a vida nos prepara e o que o Yoga (Y maiúsculo) pode nos ajudar.

Vemos isto nesta pequena carta do Prof. Hermógenes, o aconselhamento de praticar o hatha-yoga mais de duas vezes por semana, ocupa o papel de quase uma observação no texto, porém os ensinamentos sobre a ação de auxílio ao próximo, a impermanência e insatisfatoriedade dos desejos mundanos (melhoras orgânicas, por exemplo) tem ênfase principal.


Prezada Senhora:

Sua Carta me deixou feliz, relatando seus progressos, excelente estado de ânimo, coragem e lucidez diante de tantos problemas que a vida lhe apresentou.


Purgação Mental

A técnica que chamo “purgação mental”não deve excluir o que a senhora chama de “lembranças tristes”, ou seja, a memória de fatos desagradáveis. Quando alguém toma um purgante para provocar uma limpeza intestinal, não pode pretender sustar a elimina'~ao de algumas matérias pútridas. É exatamente a expulsão de todas que vai limar o organismo. Devem sair todas, sim. E a pessoa não deve sentir repugnância ou tristeza diante da imundície que está indo embora. Da mesma forma, quem pratica “purgação mental” deve deixar fluir para longe todo conteúdo sujo e perturbador. Ele é perturbador enquanto permanecer lá dentro, quando é mais potente por ser ignorado. O praticante de “purgação” deve conservar-se isento: sem medo, sem asco, sem remorso, sem depressão... O único sentimento cabível é o de alegria por aliviar-se da carga intoxicante que poluía os porões da mente.


Felicidade Sempre

A carta relata suas dúvidas e receios. Mas as dúvidas nos assaltam porque ansiamos pela certeza de que seremos felizes, e nunca infelizes; de que teremos sempre saúde, vitórias, lucros materiais ou mesmo espirituais, e nunca o contrário. Não é assim? Esta certeza é muito difícil de alcançar enquanto vivemos na ilusão de que somos nosso corpo, nossa mente, nossas emoções, nossos haveres e poderes, nossas posições...

A felicidade certe e perene é rara, pois depende do nosso despertar para a Realidade Suprema. Enquanto nossa consciência alcança somente a pseudo-realidade do mundo, somos vulneráveis, falíveis, sujeitos aos “opostos”existenciais.


Persistência

Gostei daquele trecho em que afirma que continuará insistindo, caminhado, mesmo depois das quedas ou de pequenos recuos. Gostei da sua decisão de continuar “batendo” até a porta abrir-se. O mais importante, nesse ponto, é “bater” na porta certa. Se o seu interesse é apenas o de obter melhorar orgânicas, pode crer que essa porta não é bem aquela que a fará feliz. Melhoras orgânicas são desejáveis sim, mas como um simples meios para um fim mais alto: a realização espiritual.

Continue praticando yoga, dentro de suas limitações, mas conservando o ânimo alto; cultive o sentimento de que é feliz não obstante as condições adversas que a atingem e envolvem. Se a vida é efêmera, muito mais o são as condições perturbadoras da vida.


Karma Yoga

Ao cuidar de sua velha mãe, creia, a senhora está praticando o melhor dos yogas, embora não seja o Hatha Yoga. É Karam yoga, o yoga da acão. Sirva sua mãe com amor. Aprenda, no serviço, a tornar-se paciente, gentil, incansável. Aprenda a felicidade de servir, mas não cometa o erro de querer servir exatamente para alcançar a felicidade. A felicidade de quem serve consiste em somente servir, sem esperar resultados para si. Não cultive nem mesmo o sentimento de estar cumprindo um dever que, portanto, ao final, lhe daria direito a uma salvação, a alguma bênção ou recompensa qualquer. Dessa forma, servindo e amando sem apegos, estará criando “força e equilíbrio”.


Programa de Hatha

Acho bom que continue a praticar suas sessões semanais de yoga. Se puder sem mais de udas por semana, ainda melhor.

Que o Cristo se manifeste pleno e esplendoroso em sua existência.

Namastê”


Prof. Hermógenes, Yoga Paz com a Vida, p. 197